quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Dança da corte

 

As Danças da Corte

Escrevi este artigo originalmente em 2007. Ele foi publicado como artigo no site da Academia de Ballet Cristiana Packer em 01 de novembro de 2007. Desde então, fiz algumas alterações no texto para corrigir pequenos acidentes de digitação.

German Dance

As danças da corte destacam-se pela pompa, luxo e exibição. Por exemplo, a valsa vienense, típica de competições de dança, chama atenção pela pose um tanto exagerada dos pares. Curiosamente, um estudo histórico sugere que este estilo aristocrático de dança surgiu, na verdade, de tradições populares da Alemanha. Veja como isto aconteceu.

Praticamente todo o conhecimento sobre danças populares da idade média se perdeu com o tempo. Os passos das danças e as técnicas eram transmitidos verbalmente de pessoa para pessoa. Os poucos testemunhos escritos que sobreviveram daquela época desprezam totalmente a cultura popular. Eles mencionam apenas nomes de danças típicas da corte e não entram em detalhes. Restaram para contar história algumas ilustrações, várias pinturas, algumas poucas estátuas e roupas do figurino.
Apesar da pouca informação remanescente, é certo que existiam, na Alemanha medieval, danças populares não religiosas. As pessoas dançavam normalmente em círculo (em torno dos músicos), ou de mãos dadas (algo semelhante com uma ciranda) ou fazendo passos ou saltos mais ou menos coreografados. Havia também as danças em fila (parecido com uma quadrilha). Homens e mulheres dançavam em momentos diferentes, nunca juntos. A dança masculina costumava ser mais rápida, mais elaborada e voltada para demonstração de habilidade e força. Frequentemente, os homens dançavam com utensílios típicos do dia-a-dia (por exemplo, espadas e enxadas). Quando não havia músicos, as próprias pessoas cantavam.
No início do renascimento, no século 16, surgiu uma nova profissão: os “mestres de dança”. Hoje, chamaríamos estas pessoas de “coreógrafos”. Eles estudavam e ensinavam os passos das danças típicas de sua região. Também produziram livros e muitas ilustrações. Diferente dos mestres de música, que utilizaram uma notação clara e comum para anotar a música em papel (a partitura), os mestres de dança não conseguiram chegar a um acordo. Assim, cada livro utilizou um vocabulario próprio e uma simbologia diferente, o que dificulta seu entendimento.
Um dos primeiros registros dos mestres é uma dança chamada “Allemande”, bastante comum nas cortes da França, da Espanha e da Inglaterra. Allemande é um nome francês e significa dança que veio “da Alemanha”. Isto sugere que a corte européia do século 16 imitou o estilo da dança popular alemã. Evidentemente, nenhum membro da corte estava disposto a se rebaixar para uma “dança popular”. Portanto, várias adaptações foram feitas para tornar a Allemande mais “nobre”, mas sem perder a diversão. Homens e mulheres passam a dançar em pares. Enxadas e espadas foram abolidas para dar lugar a roupas elegantes e perucas pomposas.
Allemande é uma dança formada por duas partes. Na primeira, os músicos tocavam melodia lenta de 4 tempos, enquanto os pares dançavam em círculo ou em fila e de forma coreografada (parecido com a dança popular alemã original). A segunda parte é uma valsa rápida, na qual os pares dançam de forma independente, improvisando figuras com os braços que poderiam ser bastante complicadas (eu ousaria dizer que as ilustrações desta parte da dança lembram o forró). Bach e Händel criaram várias músicas para este estilo de dança.
No século 18, os “Menuentos” conquistam espaço nas danças da corte. Mas a Allemande cai no gosto popular no sul da Alemanha e na Áustria. Sem as regras rígidas da corte, a Allemande sofre novamente várias alterações, tanto no estilo da música, como no da dança. Predomina a valsa da segunda parte, que passa a ser dançada por pares (casais) girando individualmente. Este novo estilo é então chamado de “Teutscher Tanz” (hoje é escrito como “Deutscher Tanz”), que em alemão (ou austríaco) significa nada menos que “dança alemã”. Hoje, nas capas de discos, utiliza-se o nome em inglês, ou seja “German Dance”.
Devido à proximidade casais durante a dança, postura considerada imoral e inadequada para os costumes da época, estados da Alemanha e da Áustria promulgaram entre 1760 e 1772 várias leis contra as danças “valsantes”, onde pudesse ocorrer o perigo de contato físico entre as pessoas de sexo oposto.
No entanto, estas proibições surgiram o efeito contrário do esperado pela parte conservadora da sociedade. No contexto da Revolução Francesa, a população e a burguesia escolheram a Dança Alemã como uma das formas de contrariar os ideais da nobreza e da igreja.
Os imperadores “esclarecidos” (aqueles que tentaram conciliar as exigências da burguesia, mas sem prejudicar os privilégios da nobreza e do clero), aceitaram novamente a Dança Alemã em festas da corte. Em 1790, Joseph II, imperador da Áustria, chega a contratar os melhores compositores e músicos para criar novas Danças Alemãs. Entre os compositores que se destacaram estão Haydn, Mozart e Beethoven. No mesmo período, Franz Peter Schubert também compõe várias valsas denominadas “Deutscher Tanz”, hoje conhecidas como “German Dance”.
No Congresso de Viena (1815), a “Dança Nacional Alemã” ganha aceitação internacional, tornando-se a principal dança social do século 19. Com advento de novos instrumentos e composições mais elaboradas, a Dança Alemã evolui, aos poucos, para a “Valsa Vienense”.

Bibliografia:

http://de.wikipedia.org/wiki/Deutscher_Tanz
http://de.wikipedia.org/wiki/Allemande
http://de.wikipedia.org/wiki/Historischer_Tanz
http://de.wikipedia.org/wiki/Franz_Schubert

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